É a taquicardia mais frequente no consultório dos cardiologistas. É um ritmo irregular proveniente dos átrios. Sua prevalência aumenta com o avançar da idade, atingindo mais de 10% dos idosos acima de 70 anos e pacientes portadores de doença cardíaca. Em vez de um único estímulo elétrico (originado no nó sinusal no átrio direito) viajar pelo átrio até o nódulo atrioventricular, muitos impulsos (300 a 600 impulsos por minuto) originados nos dois átrios competem para atravessar o nódulo atrioventricular. O nódulo atrioventricular promove uma filtração desses impulsos e só deixa passar alguns, proporcionando um ritmo irregular. Os ventrículos batem muito rapidamente, o que impede o seu enchimento completo de sangue. Por essa razão, o coração bombeia quantidades insuficientes de sangue, a pressão arterial cai e o indivíduo pode apresentar alguns sintomas.
Quais os sintomas da fibrilação atrial?
A fibrilação atrial pode não provocar sintoma algum ou levar a diversos sintomas. Os sintomas mais comuns são palpitação, fadiga, cansaço aos esforços, falta de ar, desmaios, tonteira, dor no peito.
O surgimento da fibrilação atrial pode piorar algumas doenças já existentes como a doença coronariana (aumentando os episódios de angina) ou a insuficiência cardíaca – “coração crescido” (aumentando a falta de ar e o inchaço).
Às vezes, a fibrilação atrial pode promover a formação de coágulos no coração que se desprendem e levam ao entupimento das artérias (embolização) em diversas partes do corpo. Esse entupimento pode causar um acidente vascular cerebral (AVC, trombose), se obstruir uma artéria no cérebro, ou trombose em outros locais (rim, intestino, braços, pernas). A chance de um portador de fibrilação atrial ter um AVC é 5 a 7 vezes maior do que a população normal.
O que causa a fibrilação atrial?
A fibrilação atrial pode ocorrer em pessoas sem nenhuma doença. Nesses casos, pode estar relacionada à ingestão de álcool, drogas ou alterações nas concentrações de alguns componentes do sangue(eletrólitos). Em alguns casos, nenhuma causa é encontrada.
Algumas doenças podem predispor à fibrilação atrial, como: hipertensão, doença arterial coronariana, insuficiência cardíaca, doença valvar cardíaca, doenças cardíacas congênitas, doença pulmonar crônica, hipertireoidismo, infecções, após cirurgia cardíaca.
Como diagnosticar a fibrilação atrial?
Diagnóstico
A fibrilação atrial pode ser diagnosticada através do exame físico (ausculta do coração – avaliação dos batimentos cardíacos com um aparelho sobre o tórax) feito pelo médico e, confirmada através de alguns exames:
Eletrocardiograma: registro dos impulsos elétricos cardíacos através de eletrodos colocados sobre a pele do tórax, braços e pernas. Na fibrilação atrial, esses impulsos são irregulares e não é visualizada a onda P (impulso que representa a contração dos átrios).
Holter de 24 horas: trata-se de um aparelho portátil que grava o eletrocardiograma por 24 horas. A gravação é analisada por um médico, que avaliará o ritmo do paciente, as frequências mínima, máxima e média e correlacionará os sintomas com o aparecimento de arritmias.
Monitor de eventos (looper): as crises de fibrilação atrial podem ser limitadas, dificultando o diagnóstico. Por vezes, torna-se necessário monitorar o ritmo por períodos prolongados (semanas ou meses) com um aparelho que é acionado pelo paciente quando apresenta algum sintoma.
Teste ergométrico: útil para diagnosticar a fibrilação atrial que surge durante esforços físicos.
TRATAMENTO
O tratamento da fibrilação atrial consiste de alguns pontos chaves:
Tratar a causa básica, se houver, controlar a frequência cardíaca (deixar os batimentos cardíacos mais lentos), restaurar o ritmo normal (sinusal) e prevenir a formação de coágulos.
As opções para atingir estes objetivos são várias: medicações, cardioversão elétrica, ablação por cateter ou cirurgia.
1. Tratamento da causa básica: corrigir problemas nas válvulas do coração através de cirurgias, tratar doença nas artérias coronárias (por angioplastia-cateterismo com colocação de “stent” ou cirurgia de revascularização miocárdica – ponte safena), tratar hipertireoidismo (remédios, iodoterapia e/ou cirurgia), evitar o uso de álcool e drogas, além de realizar modificações no estilo de vida (realizar exercício físico, parar de fumar, evitar a ingestão excessiva de cafeína ou outros estimulantes).
2. Controle da frequência cardíaca: pode ser realizada através do uso de algumas medicações (exemplo: propranolol, carvedilol, verapamil, diltiazem, etc.) ou através da ablação do nó atrioventricular e marcapasso (fechamento do canal que comunica os impulsos elétricos que vêm do átrio para os ventrículos).
3. Restauração do ritmo normal (sinusal): pode ser realizada através de medicações (amiodarona, sotalol, propafenona), cardioversão elétrica (choque elétrico), ablação por cateter ou cirurgia. A taxa de sucesso com as medicações é de apenas 30%-60%, enquanto que a ablação por cateter da fibrilação atrial pode proporcionar um sucesso de 65%-85%.
4. Prevenção da formação de coágulos: algumas medicações são utilizadas para diminuir a chance de formar coágulos no coração, como os antiplaquetários (aspirina, clopidogrel, ticlopidina) ou anticoagulantes (warfarin – Marevan® ou Coumadin®). Os anticoagulantes necessitam do controle da dose através de um exame de sangue – tempo de ativação da protrombina (INR). Saiba mais
Como é ablação por cateter da fibrilação atrial?
A ablação por cateter da fibrilação atrial está indicada quando os pacientes não toleram as medicações ou quando elas falham em manter o ritmo normal do coração (sinusal).
Consiste na aplicação de energia de radiofrequência através de cateteres que cauterizam o tecido cardíaco ao redor das veias pulmonares no átrio esquerdo e em alguns outros pontos (locais responsáveis pelo surgimento da fibrilação atrial). Essa cauterização promove uma cicatriz que bloqueia a passagem de estímulo elétrico anormal das veias pulmonares para o átrio e evita a fibrilação atrial. Uma sonda de ultrassom é introduzida no átrio direito através de uma veia na perna esquerda. Através do ultrassom, visualiza-se a parede entre os átrios e com uma agulha atravessa-a, colocando dois cateteres (um para localizar as veias pulmonares e outro para realizar a cauterização). Dessa forma, são realizadas várias aplicações de radiofrequência que cauterizam o tecido entre as veias pulmonares e os átrios.
A taxa de sucesso, dependendo do tipo de fibrilação atrial, pode chegar a 85%, com risco de complicações menor que 1%. Portanto, a ablação por cateter da fibrilação atrial tem se tornado um excelente método para o tratamento definitivo da fibrilação atrial.